A laranja no Algarve representa cerca 13.382 ha, equivalendo a uma produção total de 323.190 toneladas de fruta (INE, 2021). Particularmente no Outono, a temperatura e humidade existentes são favoráveis ao desenvolvimento de fungos como o Penicilium spp., e muitas vezes há perdas de valor em pós-colheita.

Nestes casos, é uso recorrente realizar-se um tratamento fúngico de pós-colheita antes da entrada em câmara à base de fosetil de alumínio, imazalil, ortofenilfenol e pirimetanil. No entanto, é imperioso encontrar alternativas no setor agroalimentar que deem resposta aos objetivos europeus para a redução de utilização de substâncias ativas e à preocupação crescente dos consumidores em ter menos resíduos nos produtos alimentares.

 

O Baslact Plus é um produto resíduo zero, que resulta da mistura de soro de leite com fermentos lácteos de Lactobacillus, cloridrato de quitosano e Equisetum arvense L., e que tem efeito anti-fungico sobre diversas doenças das culturas e também um efeito sinérgico quando misturado com produtos fitossanitários, permitindo a redução da concentração da substância ativa normalmente utilizada.

Assim, e tendo em conta o contexto acima descrito, o objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia do uso do Baslact Plus nos tratamentos pós-colheita de citrinos, quer isolado quer em conjunto com os produtos fitossanitários usuais.

Material e Métodos

O estudo foi realizado em Moncarapacho, Algarve. No dia 6 de fevereiro 2023 foi realizada a colheita da variedade Lane Late de um pomar adulto em modo de produção integrada. Conforme o procedimento usual, à chegada ao armazém, a fruta é devidamente desinfetada antes de ser armazenada nas câmaras de frio, sendo esta desinfeção efetuada por um sistema de drenching, utilizando-se 500L de calda.

Foram preparadas três caldas diferentes, cada uma correspondendo a três tratamentos: T0 (produtos fitofarmacêuticos usando a concentração máxima de substância ativa recomendada); T1 (só com Baslact Plus – 1,5 l/hl) e T2 (mistura de Baslact Plus, 1,5l/hL, com produtos fitofarmacêuticos usando apenas 30% da substância ativa recomendada).

Após a aplicação dos tratamentos, a fruta permaneceu 7 dias na câmara de frio. Posteriormente, foram separados 100 frutos aleatoriamente de cada uma das modalidades, e colocados numa sala à temperatura ambiente. Depois avaliou-se e fotografou-se o desenvolvimento dos frutos após 9 dias, para simulação do shelf-life.

Resultados e Discussão

De acordo com Tabela 1, pode-se verificar que a modalidade T1 apresentou uma taxa de podridão superior às restantes. O tratamento T0 apresentou uma taxa de podridão de 1% e o T2 não teve qualquer podridão. Quer o tratamento T0 quer tratamento T2 estão de acordo com os objetivos do produtor/armazenista de não ter perdas de fruto superiores a 2%. Este resultado evidencia também o efeito sinérgico e potenciador do uso combinado de Baslact Plus com produtos químicos mesmo reduzindo a dose de substância ativa para 30%, na proteção dos frutos contra fungos do género Penicillium. Ainda assim, seria interessante explorar dosagens superiores de Baslact Plus para avaliar a sua eficácia quando usado isoladamente, para que se pudesse ponderar um programa pós-colheita exclusivamente resíduo zero.

Tabela 1 – Taxa de podridão para cada um dos tratamentos realizados T0 – Tratamento 100% químico (Direita); T1 – Tratamento 100% Baslact Plus (Centro); T2 – Tratamento com Baslact Plus e com 30% da dose do químico), no dia 22 de fevereiro 2023.

Conclusão

Tendo em linha de conta a necessidade crescente de se reduzir a quantidade de fitofarmacêuticos no setor agrícola, pode-se indicar como vantajosa a utilização de Baslact Plus nos tratamentos pós-colheita de citrinos quando combinado com menores dosagens de produtos químicos.

→ Artigo publicado na Revista Voz do Campo: edição de fevereiro 2024

Autoria: Margarida Mota, Hubel Verde