João Bernardes, dedicou-se quase durante uma vida inteira ao ensino, e quando teve oportunidade aposentou-se. Foi também por essa altura que uma nova paixão surgiu: a apicultura.

Atualmente é apicultor profissional e cuida de mais de 800 colmeias no país. “Neste momento tenho apiários em quase todo o lado. Porto de Mós, Alcobaça, Nazaré, Torres Vedras, Évora, Reguengos de Monsaraz, Ferreira do Alentejo e Algarve”, descreve.

A importância das florações e a transumância

O apicultor destaca a necessidade de atender às florações e às ocasiões específicas para cada tipo de planta. “Cada planta tem o seu próprio ciclo de floração, o que exige um planeamento cuidadoso dos apicultores para maximizar a colheita de néctar e pólen. A transumância, ou movimentação das colmeias, é uma prática comum para garantir que as abelhas tenham acesso às flores certas na hora certa”, diz João Bernardes, afirmando ao mesmo tempo que “esta prática, embora trabalhosa, é economicamente benéfica, pois permite aos apicultores obter mel de alta qualidade”.

João Bernardes produz vários tipos de mel, alecrim, rosmaninho e urze, que são monoflorais, ou seja, produzidos principalmente a partir de uma única espécie. “Os méis monoflorais são os mais valiosos dada a dificuldade de os adquirir”, afirma o apicultor.

Já o mel multifloral, por outro lado, é composto por várias florações que florescem ao mesmo tempo. “Este tipo de mel é mais fácil de adquirir, pois não requer a transumância intensa necessária como o mel monofloral. O multifloral é dos prados, é de várias flores que vêm ao mesmo tempo”, explica ainda João Bernardes. A produção varia significativamente de ano para ano e de local para local. “Falámos na ordem dos 10-12 kg por colmeia, mas atenção, enquanto num apiário tenho uma produção de 30-40 kg, noutras tenho pouco ou nada”, comenta o apicultor. Este desafio é atenuado pela necessidade de um planeamento para a extração do mel. “Temos de fazer sempre um planeamento. Por exemplo, no caso de mel alecrim, devo fazê-lo na primeira semana de abril. A extração deve ser feita no momento certo para garantir que o mel mantenha as suas características monoflorais”, adianta o apicultor.

A produção do apicultor é comercializada através da CAPEMEL, onde é associado.

A necessidade de apoio e reconhecimento A vespa velutina, ou vespa asiática, é apontada por João Bernardes como uma grande ameaça. “A vespa velutina é de facto agora uma dor de cabeça para nós”, admite o apicultor. Além disso, a varroa, também representa um problema significativo, embora existam tratamentos eficazes para o seu controle. A terminar, João Bernardes enfatiza também a necessidade de existirem ajudas diretas aos apicultores, destacando que a apicultura é essencial para a polinização e biodiversidade. “80% da nossa biodiversidade, da polinização é feita pelas abelhas. Os apicultores deveriam receber mais apoios e serem devidamente reconhecidos João Bernardes, apicultor como uma estratégia nacional prioritária”.

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