Autoria

Inês Guise¹, Bruno Silva¹, Frederico Mestre¹,²,³, José Muñoz-Rojas¹,4, Maria F. Duarte 5,6, José M. Herrera¹,7

Os Azeites com Denominação de Origem Protegida (DOP) não são apenas produtos de qualidade superior; são também o reflexo da herança cultural e do saber-fazer das comunidades locais. O selo de qualidade DOP assegura que estes azeites são elaborados em locais específicos, onde as condições ambientais e o conhecimento tradicional das comunidades locais conferem características únicas ao produto.

No entanto, um estudo recente que realizámos, com a participação de investigadores da Universidade de Évora, da Universidade do Algarve e do Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-Alimentar do Alentejo, revela que as alterações climáticas estão a ameaçar esta tradição nas regiões DOP da Península Ibérica, colocando em risco o futuro da produção de azeite.

Analisámos 34 regiões DOP de Azeite, 6 em Portugal e 28 em Espanha (continental; Figura. 1). As regiões portuguesas incluem: Azeite de Trás-os-Montes, Azeites da Beira Interior (Azeite da Beira Alta, Azeite da Beira Baixa), Azeites do Ribatejo, Azeite do Alentejo Interior, Azeites do Norte Alentejano e Azeite de Moura.

Os objetivos do estudo foram entender como as alterações climáticas podem afetar as condições ambientais favoráveis ao cultivo da oliveira (aptidão ambiental para o cultivo de oliveira) e as características ambientais distintas de cada região DOP (singularidade ambiental das DOP).

O que revelou o estudo?

Usando modelos ecológicos, previmos a distribuição da oliveira para 2050 considerando dois cenários climáticos, um moderado e outro mais severo. Estes modelos permitem avaliar a aptidão climática para a oliveira em função do clima. Os resultados indicam que a aptidão ambiental nos olivais no centro e sul da Península Ibérica irá diminuir, tanto fora como dentro das regiões DOP (Figura 2). No Sul da península os impactos serão mais acentuados. É nesta zona que se encontram os olivais mais produtivos, como os do Alentejo e da Andaluzia (Espanha), e onde se localizam diversas regiões DOP de Azeite. Entre as regiões que poderão ser afetadas, incluem-se, por exemplo, os “Azeites do Ribatejo” no centro e “Montoro-Adamuz” (Espanha) no Sul, onde se prevê uma diminuição na aptidão ambiental para o cultivo de oliveira. Por outro lado, as zonas mais a norte poderão tornar-se mais propícias ao cultivo de oliveira, uma vez que é nessas zonas que as condições ambientais se tornarão mais favoráveis, principalmente em termos de condições de temperatura e precipitação.

Assim, quase todo o norte da Península Ibérica poderá se revelar mais viável para o cultivo da oliveira. Regiões como “Azeite de Trás-os-Montes” e “Aceite de Navarra” (Espanha) têm potencial para se tornarem mais adequadas ao cultivo de oliveira.

Além da aptidão ambiental, a singularidade ambiental das regiões DOP pode estar seriamente comprometida (Figura 3). Regiões como “Azeite de Moura” e “Azeites do Norte Alentejano”, assim como “Aceite Campo de Montiel” e “Antequera” (Espanha), podem perder quase toda a sua singularidade ambiental. Mesmo regiões do Norte, como “Azeite de Trás-os-Montes” e “Aceite de la Rioja” (Espanha) enfrentarão perdas de singularidade ambiental. Isto significa que, embora possam apresentar melhores condições de cultivo (aptidão ambiental) no futuro, estas regiões terão características ambientais muito diferentes das atuais, o que pode comprometer tanto a qualidade dos azeites como a identidade das próprias DOP.

É igualmente importante considerar que a viabilidade do cultivo não depende exclusivamente das condições ambientais. Fatores como a estrutura do terreno e a gestão agrícola desempenham um papel crucial, e podem influenciar a capacidade de adaptação das regiões às novas condições ambientais. Portanto, o sucesso do cultivo em áreas com futuras condições favoráveis não está garantido sem uma avaliação mais ampla desses fatores (…).

→ Leia este e outros artigos completos na Revista Voz do Campo – edição de maio 2025, disponível no formato impresso e digital.

¹ MED – Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento & CHANGE – Instituto para as Alterações Globais e Sustentabilidade, Instituto de Investigação e Formação Avançada, Universidade de Évora, Pólo da Mitra, Ap. 94, 7006-554 Évora, Portugal

² Cátedra Rui Nabeiro – Biodiversidade, Universidade de Évora, Casa Cordovil, 2ºAndar, Rua Dr. Joaquim Henrique da Fonseca, 7000-890 Évora, Portugal

³ Afiliação atual: CCMAR, Centro de Ciências do Mar, Universidade do Algarve, 8005-139 Faro, Portugal

4 Departamento de Paisagem, Ambiente e Ordenamento. Colégio Luís António Verney, Universidade de Évora, Rua Romão Ramalho, 59, 7000-671 Évora, Portugal

5 Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-Alimentar do Alentejo (CEBAL), Instituto Politécnico de Beja (IPBeja), 7801-908 Beja, Portugal

6 MED – Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento & CHANGE – Instituto para as Alterações Globais e Sustentabilidade, CEBAL, 7801-908 Beja, Portugal

7 Departamento de Biología – Instituto de Investigación Vitivinícola y Agroalimentaria, Universidad de Cádiz, Puerto Real, España

Para entrar em contacto, envie um e-mail para: oleadapt@uevora.pt

Para mais informações, consulte o artigo completo disponível em: https://doi.org/10.1016/j.agsy.2024.104108


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