A Associação de Produtores de Figo-da-Índia Portugueses – APROFIP – foi fundada em 2012 e nasceu da necessidade de promover e prestar apoio a uma cultura emergente. Hoje a Associação apresenta-se com uma estrutura sólida e dinâmica, essencialmente dedicada ao apoio ao produtor, com intenções de melhorar a capacidade de produção, a qualidade da fruta e definir estratégias de crescimento para o futuro desta cultura em Portugal. Quem o afirma é o presidente da direção, recentemente eleita, Ferdinando de Freitas. A análise que faz à atualidade da cultura é que existem produtores profissionalizados, grupos de produtores, uma cooperativa e o mais importante é que os pomares já produzem fruta em quantidades significativas.

Fale-nos um pouco sobre a necessidade de criação da APROFIP e como é que se caracteriza nos dias de hoje?

A APROFIP surge pela necessidade de prestar apoio técnico e organização dos produtores, numa altura onde foram lançados vários pomares ao longo do país. Passados 10 anos e várias fases relacionadas com o crescimento desta cultura “ainda emergente”, no seu quarto mandato a APROFIP apresenta-se com uma estrutura sólida e dinâmica, essencialmente dedicada ao apoio ao produtor, com intenções de melhorar a capacidade de produção, a qualidade da fruta produzida e definir estratégias de crescimento junto dos seus associados para o futuro desta cultura em Portugal.

Quais os principais marcos que podem ser destacados nestes 10 anos de atividade?

Na minha opinião esta cultura passou por uma primeira fase, onde vários produtores foram cativados e lançaram os seus pomares, aliciados pela capacidade de resistência destas plantas, produtividade e preço de mercado.

Nesta altura surge também a associação APROFIP, outras associações de produtores e até uma cooperativa. A esta fase inicial, seguiu-se um segundo momento no qual os pomares, ainda jovens, não produziam fruta e alguns produtores começaram a perder interesse na manutenção dos pomares chegando a abandoná-los. Simultaneamente registou-se uma redução do número de produtores e associados na APROFIP e posteriormente o encerramento de vários agrupamentos de produtores e até da primeira cooperativa.

Numa terceira fase, observou-se o lançamento de vários pomares, mas desta vez com produtores mais informados, com melhores capacidades de investimento, apoiados também por empresas e alguns fundos. Estes últimos, juntamente com alguns dos pomares lançados inicialmente constituem a massa de produtores que reconhecemos em Portugal atualmente. Neste momento existem produtores profissionalizados, grupos de produtores, uma cooperativa e o mais importante, os pomares já produzem fruta em quantidades significativas.

Tendo esta direção sido eleita há pouco tempo, qual é o seu plano de atividades?

A presente direção da APROFIP e respetivos órgãos tiveram na sua base o desenvolvimento de uma equipa multidisciplinar, distribuída de norte a sul do país, incluindo as ilhas. Além disso, reúne produtores de todas as empresas profissionais em Portugal que operam com o figo-da-índia. O objetivo principal é estar mais perto dos produtores e associados, garantir o apoio técnico e acesso vantajoso aos fatores de produção. Tem ainda o objetivo de incentivar a produção de fruta de elevada qualidade para que esta possa competir quer no mercado nacional quer no internacional, fomentar o associativismo e a comercialização em escala com vista à profissionalização da cultura do figo-da-índia.

Quem são os associados da APROFIP e qual o seu perfil?

A massa associativa reúne todos os produtores portugueses de maior dimensão, contando também com alguns com áreas menores. No entanto, consideramos que os associados APROFIP são produtores nutridos de um grande dinamismo que ambicionam fazer crescer as suas produções e trazer o figo-da-índia à mesa dos cidadãos europeus.

Que papel desempenha a Associação junto destes associados?

A atual direção tem realizado diversas iniciativas com vista aproximar os associados da própria Associação. Queremos estar ao lado dos produtores, nas dúvidas, nas dificuldades, na apresentação de parcerias que sejam vantajosas, desenvolver capacidade de produção mas também de escoamento de fruta, quer em fresco quer para transformação.

Sendo o figo-da-índia uma cultura relativamente recente em Portugal do ponto de vista da “intensificação”, qual é o seu estado atualmente?

Num cenário de alterações climáticas e onde vários estudos apontam para que pelo menos 1/3 do país irá atravessar seca extrema, esta cultura apresenta-se estratégica. E é esperada a conversão de áreas de outras culturas para culturas mais rentáveis, mais resistentes, menos sujeitas a pragas, com menor necessidade hídrica e que convertam eficazmente os nutrientes em alimento. Esta cultura satisfaz todos estes requisitos pelo que se espera um aumento significativo das áreas de produção em Portugal.

A que volume de produção estamos a referir-nos?

Em relação a números, embora ainda seja cedo para uma previsão assertiva para a campanha de 2022, a produção nacional deverá rondar as 2500 toneladas.

Já se pode falar numa fileira?

Ainda é cedo para considerar uma fileira, mas muitas vezes o termo é aplicado em conversas incluindo públicas, no entanto, só agora os pomares começam a ter fruta. Mas temos todas as condições para que em breve esta cultura possa traduzir-se numa produção estável com maior expressão e possamos considerar uma fileira.

Quais têm sido as principais barreiras encontradas pelos produtores?

As principais dificuldades surgem a nível técnico, gestão do próprio pomar, mas existem outras relacionadas com a dimensão da exploração, nomeadamente, pela pequena dimensão das parcelas, isolamento comercial e dificuldade em desenvolver parcerias com outras unidades de produção.

Que potencialidades ainda estão por explorar?

As possibilidades são imensas, conquista do mercado nacional em termos de fruta fresca, produtos transformados, utilização da palma na alimentação animal e humana, indústria farmacêutica e biomédica.

De que forma é que a cultura é aproveitada?

Esta cultura acaba por ter interesse ao nível da fruta fresca; extração de polpa para sumos; compotas; geleias; recheios; extração de óleo das sementes para cosmética; utilização da fruta para bebidas alcoólicas fermentadas; utilização da palma para alimentação animal e humana; produção de gás; extração de pigmentos, extração de compostos ativos incluindo polifenóis; utilização da flor em infusões entre outras; gelados e cerveja.

Quais os principais mercados?

Destacamos os mercados do norte da Europa, muito atrativos ao nível do poder de compra e simultaneamente pela incapacidade de produzirem este tipo de fruta por falta de horas de sol e temperatura indicada (…).

→ Leia a entrevista completa na edição de maio 2022 da Revista Voz do Campo.