O medronheiro (Arbutus unedo L.) é uma espécie de origem Mediterrânica, com uma distribuição natural por todo o País e de uma forma mais relevante no Algarve (Serra do Caldeirão e Monchique) e na zona Centro. Têm sido diversos os trabalhos de investigação realizados no âmbito de projetos de ID&D (FCT e ProDeR) e em colaboração com diversas entidades de investigação (INIAV, Universidade do Algarve), extensão rural (DRAPC), produtores (Lenda da Beira) e empresas (GreenClon) abrangendo toda a fileira do medronho (www.esac.pt / medronho). O medronheiro tradicionalmente tem sido explorado em áreas naturais e só recentemente em pomares.

Fruto de uma planta selecionada

Assim, não tem sido sujeito a nenhum processo de seleção, sendo de esperar uma grande variabilidade de plantas no estado selvagem que não garantem uma produtividade homogénea. A variabilidade em áreas naturais está relacionada com as características de adaptabilidade da espécie a condições de stresse ambiental (seca, geada, solos). A ESAC em colaboração com a DRAPC, os produtores e a GreenClon apostou na seleção de plantas adultas avaliadas pela produção e qualidade de fruto, posterior propagação (micropropagação) e na instalação de ensaios clonais. A seleção das plantas foi feita com base no porte da planta, na produção e qualidade de fruto.

Os ensaios com plantas clonais e de semente instalados em diferentes condições mostraram maior produção de fruto e homogeneidade com plantas clonais, maior potencial produtivo com fertilização à plantação e ainda permitiram a seleção de clones para as diferentes estações ecológicas. Devido às maiores produções sucessivamente observadas com plantas clonais, é conveniente proceder a adubações de forma a compensar a maior quantidade de nutrientes que é extraída pela produção de fruto. De acordo com os resultados são esperadas baixas produções em solos delgados, de baixa fertilidade, com um volume de terra disponível para as raízes reduzido, mesmo quando as plantas são fertilizadas. Será necessário selecionar plantas, nessas condições, bem como recorrer a outras estratégias, como a utilização de micorrizas, de forma a aumentar a disponibilidade de nutrientes para a planta. No corrente ano foram instalados ensaios clonais com plantas micorrizadas.

A produção quer em quantidade quer em qualidade depende muito das operações culturais. Os ensaios de podas mostraram que em plantas muito altas, em que a colheita é difícil, a rolagem é eficaz e permite uma retoma da produção ao 2º ano. Em plantas com uma copa muito densa, em que a entrada do ar e da luz é difícil, as podas com base em desramações e atarraques sobre ramo lateral mostraram ser eficientes. As plantas têm que ter uma dimensão que facilite a colheita e uma forma que permita um bom arejamento e iluminação.

Os resultados na instalação e condução de pomares mostraram que é relevante: 1) fomentar e manter no solo os resíduos orgânicos da cultura; 2) escolher as plantas/os clones melhor adaptados às condições de solo e clima; 3) realizar a correção do pH (quando necessário) e fertilização à plantação; 4) proceder a adubações de forma a compensar a quantidade de nutrientes que é extraída pela produção de fruto; 5) aplicar os nutrientes ao solo no início da primavera para potenciar a sua absorção; 6) compreender que os efeitos da fertilização na produtividade não se refletem no 1º ano, devido ao longo período desde a indução floral até ao vingamento e posterior maturação do fruto (superior a 1 ano).

Foram dados passos importantes para a conservação do fruto para consumo em fresco. Em 2016, pela primeira vez, o medronho, como fruto fresco, fornecido pela empresa Lenda da Beira, parceira do projeto ProDeR, esteve à venda em grandes superfícies comerciais. O Manual de Boas Práticas para o fabrico de Aguardente aborda as operações desde a colheita do fruto à aguardente. Produtos como iogurtes, snacks, patês, frutos confitados e cristalizados, frutos desidratados e liofilizados têm vindo a ser desenvolvidos. A investigação que tem vindo a ser realizada está em linha com o Plano Regional de Ordenamento do Território do Centro, pela produção de conhecimento e dinamização de áreas emergentes relacionadas com a valorização dos recursos endógenos.


AUTORIA:

Filomena Gomes(1), Justina Franco1, Rosinda L. Pato(1), Patrícia Figueiredo(2), Ivo Rodrigues(1), João Gama(3), Adriana Guerreiro(4), Dulce Antunes(4), Ludovina Galego(4), Goreti Botelho(1)
(1)Escola Superior Agrária de Coimbra/ESAC;
(2)GreenClon Lda;
(3)Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro/DRAPC; (4)Universidade do Algarve.

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