Luís Mira, Secretário-Geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP)“O país enfrenta o desafio de disponibilizar recursos hídricos para os 85% da superfície agrícola não regada, aproveitar de forma adequada as barragens existentes e investir em tecnologias modernas”.

Há necessidade de soluções para a agricultura não regada
Luís Mira, Secretário-Geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), em entrevista à Voz do Campo, destaca que apenas 15% da superfície agrícola em Portugal é regada, deixando os restantes 85% sem acesso a esse recurso. “Acredita-se que a rega não é a única resposta para os desafios da agricultura, no entanto é preciso en- contrar soluções e apontar caminhos para a maioria da área agrícola útil, composta por prados e pastagens, que representam dois milhões e meio de hectares dos três milhões e 600 mil hectares de superfície agrícola no país”.

A subutilização dos recursos hídricos em Portugal
Para o nosso entrevistado “Portugal não sofre com falta de água, mas sim com a falta de aproveitamento dos recursos hídricos existentes. Muitas barragens, por exemplo, possuem concessões para empresas de produção de energia, deixando de ser utilizadas para fins múltiplos. O país precisa adotar ações eficientes para o uso da água que vão para além da construção de novas barragens, é preciso incluir o aproveitamento das já existentes e a implementação de sistemas de transvase de água de regiões com excedente para regiões mais secas”.

A busca pela eficiência na agricultura e a falta de investimentos
O Secretário-Geral da CAP ressalta que a agricultura é frequentemente apontada como pouco eficiente devido à tecnologia ultrapassada e à falta de investimentos nos sistemas de rega pública. Apesar disso, em seu entender “os agricultores têm adotado sistemas eficientes, como o uso de sensores e a gestão cuidadosa da água, não obstante de as estruturas públicas necessitarem de manutenção e atualização, consequência de uma certa falta de prioridade política para o uso eficiente da água” e destaca a “oportunidade perdida de utilizar os fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para esse fim”.

O papel das barragens e a importância da tecnologia
Embora as grandes barragens sejam mais difíceis de construir, Luís Mira enfatiza que “Portugal possui recursos hídricos no subsolo, para além de pequenas e médias barragens que podem ser utilizadas como reservatórios”, e entende que a tecnologia atual permite a gestão eficiente da água, sendo essencial que o país aproveite esse potencial. Além disso, o Secretário-Geral da CAP destaca que “a agricultura não gasta água, já que faz parte de um ciclo, “mas é fundamental garantir o acesso a esse recurso para a produção de alimentos.”

A necessidade de ação e investimentos efetivos
Já em relação ao Plano Nacional de Regadio, Luís Mira ressalta a importância da sua execução e o iniciar de “uma linha de atuação para a gestão eficiente da água”. O dirigente critica a falta de ações concretas nos últimos anos, além do projeto do Alqueva e reforça a necessidade de investimentos “não apenas em barragens, mas também na gestão do que já existe, bem como no uso de tecnologias modernas, onde a conectividade assume um papel primordial no sentido da otimizar a utilização da água”.

Em suma, Luís Mira, revela a urgência de uma gestão eficiente da água em Portugal para impulsionar a agricultura e garantir a sustentabilidade do setor. “O país enfrenta o desafio de disponibilizar recursos hídricos para os 85% da superfície agrícola não regada, aproveitar de forma adequada as barragens existentes e investir em tecnologias modernas”. No seu entender a falta de vontade política e a falta de priorização da gestão eficiente da água são as razões apontadas como os principais obstáculos a serem superados. “A atuação efetiva nesse campo é crucial para a segurança alimentar, a indústria, o comércio e o bem-estar das populações, e Portugal deve tomar medidas concretas e investir de forma estratégica para evitar consequências negativas no futuro, termina o Secretário-Geral da CAP.

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