Carlos Neves Agricultor

“Sou um agricultor apaixonado por comunicação. Ao longo da vida tenho participado e assumido a direção em diversas associações que me proporcionaram formação e onde assumi responsabilidades na comunicação, através da publicação regular de artigos de opinião, edição de revistas, gestão de redes sociais, comunicados e intervenções na comunicação social.

Apesar de ter vivido experiências muito positivas de comunicação, nomeadamente nas organizações agrícolas, cheguei à conclusão que é possível ir mais longe na comunicação da agricultura partilhando o meu testemunho como agricultor, contando a minha história, apresentando a minha família, partilhando imagens da minha atividade nas redes sociais e escrevendo regularmente no meu blog “Carlos Neves Agricultor”, seguindo o exemplo de outros colegas agricultores que o fazem em Portugal e pelo mundo fora. Para além disso, com alguns desses textos publiquei o livro “Desconfinar a Agricultura – Crónicas Agrícolas do Prado ao Prato” que me permitiu chegar a um público diferente.

O setor agrícola tem uma tradicional dificuldade em comunicar porque as tentativas de comunicação acontecem, regra geral, tarde e mal, em reação a crises. Antigamente, quando todos éramos agricultores ou vizinhos de agricultores, a comunicação acontecia naturalmente. Hoje o agricultor vende os seus produtos à cooperativa ou outro intermediário que o vai vender à indústria que o transforma, embala, depois vende à distribuição que o faz chegar ao consumidor. O agricultor está muito longe do consumidor, que é bombardeado com a publicidade das várias alternativas alimentares. Há uma “luta pelo espaço no estômago” do consumidor e as alternativas de base vegetal tiram proveito de mensagens negativas sobre os alegados efeitos da pecuária no ambiente, no clima, na saúde ou no bem-estar animal.Para além disso, os movimentos animalistas têm como objetivo terminar com toda a criação de animais na pecuária e comunicam constantemente para pressionar a população e os responsáveis políticos, de modo que quem pretenda continuar na atividade pecuária tem de ser capaz de comunicar e contar a sua visão dos factos.Para a comunicação agrícola ser eficaz, proponho que tenhamos atenção a 4 “P”:

Profissional: a comunicação é uma ciência. Assim como recorremos a veterinários, zootécnicos ou agrónomos para nos aconselharem no trabalho agrícola e pecuário, temos de recorrer aos profissionais da comunicação, não podemos desprezar e improvisar. Como é obvio, essa “contratação” não pode ser feita pelos agricultores de forma individual, mas pelas organizações agrícolas e empresas agroindustriais de maior dimensão.

Partilhada: para além do trabalho dos profissionais da comunicação, todos nós temos de ter noções básicas para comunicar, da mesma forma que temos noções básicas de mecânica para reparar um trator ou de primeiros socorros para um pequeno acidente. Na família, a nível local, nas redes sociais, temos muitas ocasiões e obrigação de comunicar.

Preventiva: Temos de ser capazes de mostrar o que somos e como produzimos alimentos, saber quais as dúvidas dos consumidores e cidadãos antes que alguém nos acuse e passemos a ser suspeitos, pois se começamos a comunicar só em reação, “entrámos a perder” no “jogo” da comunicação.

Permanente: A comunicação tem de ser constante, sem ser excessiva, porque “quem fica longe da vista fica longe do coração” e a sua mensagem é esquecida e substituída por outra mais recente e mais repetida.

Da forma como comunicamos dependem o sucesso das nossas empresas, as regras a que somos sujeitos e a nossa imagem na sociedade. Temos de levar muito a sério a comunicação”.

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