Firmino Cordeiro, Diretor Geral da Associação Nacional dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP), alerta para os desafios enfrentados pelos agricultores e a importância de priorizar a gestão da água no país.
Água na agricultura: Uma transformação necessária
“Quanto à ideia de que são os agricultores que gastam mais água, devo dizer que de facto somos aqueles que utilizamos mais água mas não a gastamos, transformamos a água em produtos para alimentar pessoas, portanto água essa que não se perde na totalidade como é evidente ela entra no conhecido circuito – ciclo da água”, considera Firmino Cordeiro. A agricultura é indiscutivelmente uma das atividades que mais depende da água, pois é por meio dela que se transformam sementes em culturas que alimentam milhões de pessoas. A água, tida como o “sangue da terra,” é essencial para o desenvolvimento das plantas e, consequentemente, para o sucesso da produção agrícola. No entanto, a questão não se resume apenas à quantidade de água utilizada, mas sim à gestão eficiente desse recurso vital.
Conhecimento e Inovação: Chaves para uma agricultura sustentável
Segundo o dirigente “temos que trabalhar em agricultura com os melhores porta-enxertos, variedades mais adaptadas ao clima e ao solo onde estamos a operar, portanto a necessidade de mais conhecimento sobre os nossos solos, mais informação sobre o clima (…), é crucial para alcançar uma produção eficiente e essencial para garantir uma correta utilização da água, direcionando-a para onde é necessária. Em suma, a busca pela sustentabilidade na agricultura requer constante aprimoramento e inovação”.
Água e Rentabilidade: O desafio da genética e da produtividade
A busca por genética aprimorada e variedades de plantas mais eficientes é fundamental para otimizar a produção agrícola, mesmo com quantidades limitadas de água disponível. Investimentos em pesquisas e inovação têm sido realizados, resultando numa maior variedade de plantas menos exigentes em água e mais produtivas. A busca por uma agricultura mais produtiva e sustentável é um objetivo compartilhado por diversos setores da sociedade.
“Temos que ter a melhor genética por forma a conseguirmos uma boa rentabilidade, termos mais espécies e mais variedades que consigam atingir níveis de produção com quantidades de água satisfatório. Felizmente temos hoje mais estudos na procura da inovação, como é o caso do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) e mesmo de muitas das nossas empresas que procuram as plantas menos exigentes em água e mais produtivas, dando corpo ao chavão – produzir mais com menos”, acrescenta Firmino Cordeiro.
Água e a Sociedade: Sensibilização e necessidade de investimentos
A conscientização sobre a importância da agricultura e o reconhecimento dos desafios enfrentados pelos agricultores têm aumentado significativamente. A atividade agrícola é vista como uma atividade de risco e que requer investimentos adequados em infraestrutura e tecnologia. A sociedade deve estar engajada em apoiar os agricultores e o setor agrícola como um todo, compreendendo a necessidade de medidas que garantam o abastecimento alimentar e a sustentabilidade. “Hoje a sociedade civil está muito mais sensível aos problemas dos agricultores, sabem que é uma atividade a céu aberto com um grau de risco muito elevado, os seguros são caros e os seus modelos ainda não estão abertos a todas as culturas”, entende Firmino Cordeiro.
A escassez de água em Portugal: Desafios e oportunidades
A gestão inadequada da água em Portugal tem sido um dos principais desafios enfrentados pelo setor agrícola. Com uma fraca capacidade de retenção a grande parte da água das chuvas é desperdiçada e segue para o mar. Nesta matéria o diretor geral da AJAP considera que “temos uma quantidade de água suficiente em Portugal se contarmos com a água das chuvas, o problema é que a nossa capacidade de retenção é de apenas 20%. Temos de conseguir reter com megas barragens, porque as médias e pequenas estruturas que existem são insuficientes. Mesmo com a fraca capacidade de água que temos, se as empresas de produção de eletricidade não precisassem de tanta água, teríamos muita capacidade de armazenagem de água no país. Então há que investir mais em painéis fotovoltaicos flutuantes nas superfícies de todas as barragens”.
Prioridades políticas e desafios futuros
Firmino Cordeiro destaca a necessidade de uma abordagem política consistente e um consenso nacional para enfrentar os desafios da gestão da água na agricultura. “Investimentos em obras de grande envergadura e a implementação de medidas sustentáveis são fundamentais para garantir um futuro mais seguro para a agricultura em Portugal. A esperança reside no uso sensato dos recursos financeiros disponíveis e na definição de prioridades políticas voltadas para o desenvolvimento sustentável do setor agrícola (…), os problemas não se resolvem apenas com medidas paliativas, temos de considerar obras de vulto. Isto é mesmo uma opção política que não é deste Governo ou de outros Governos, tem que haver aqui um consenso nacional, definido até na própria Assembleia da República por todos os partidos”, termina o representante dos Jovens Agricultores de Portugal.
→ Este e outros artigos na Revista Voz do Campo, edição de agosto/setembro 2023.
