A produção olivícola nacional teve nos anos mais recentes um desenvolvimento sem precedentes, com o alargamento a novas áreas de produção, a reconversão e modernização de áreas de olival tradicional, a expansão da colheita mecanizada e a introdução do regadio no sistema produtivo, designadamente após a conclusão da barragem do Alqueva.

Luís Mira, Secretário-Geral da Confederação dos Agricultores de Portugal

A aliança entre qualidade e quantidade faz do setor uma nova potencia exportadora e confere ao nosso país uma notoriedade que de alguma forma havíamos perdido face a outros mercados da orla mediterrânica. A par desta transformação na vertente produtiva, o próprio consumidor está mais sensível e recetivo ao produto, quer por via das vantagens do azeite para a saúde no âmbito de dieta mediterrânica, quer pelo nível de sofisticação que se tem afirmado na cultura gastronómica nacional.

Neste sentido, a par do crescimento exponencial da produção, surgem novos desafios relacionados com a vertente ambiental dos olivais e dos processos de transformação do produto que lhe são inerentes. Por exemplo, a valorização do bagaço de azeitona é atualmente um aspeto cada vez mais relevante para o setor, pelo que o conhecimento desta matéria beneficia os produtores, os consumidores e os agentes económicos de um modo transversal.

Temos vindo a assistir a uma melhoria significativa na sustentabilidade ambiental dos lagares, nomeadamente com a adoção de um sistema contínuo de extração em duas fases. Estas unidades têm vindo a modernizar-se, no sentido de corresponder aos mais elevados padrões de sustentabilidade ambiental, contribuindo para promover a economia circular e valorizar este subproduto. No entanto, no que concerne às unidades extratoras do bagaço de azeitona, que resulta do processo de extração mecânica inerente à produção de azeite, esta melhoria ainda não é tão percetível.

O óleo de Bagaço de Azeitona que é obtido no processo de extração, após a refinação, é usado no setor alimentar. Por outro lado, tanto o caroço da azeitona como o próprio bagaço podem ser aproveitados como fontes de energia renováveis, promovendo a sustentabilidade ambiental e reduzindo o consumo de combustíveis fósseis. O bagaço pode também ser usado como biofertilizante orgânico, tendo como objetivo melhorar a qualidade e a estrutura dos solos, reduzindo deste modo a necessidade de fertilizantes químicos aplicados nas culturas, assim como ser incorporado em rações para animais, com valor nutritivo em fibra e açúcar. Para além disso, o óleo de bagaço é ainda utilizado na produção de cosméticos, como o sabão, cremes e shampoos.

Existem também projetos alternativos às extratoras, como o Projeto URSA da EDIA, que pretende através da criação de unidades de compostagem, valorizar os subprodutos com um impacto económico e ambiental positivos. Um outro exemplo de alternativas às extratoras é o aproveitamento dos bagaços de azeitona para a produção de fertilizantes orgânicos, óleos e proteínas para a alimentação animal através da utilização de insetos. Com efeito, o projeto “Olival Circular”, promovido pela empresa EntoGreen, usa os insetos como “ferramenta” para transformar este subproduto, numa lógica de economia circular, devolvendo assim ao solo muito do que é extraído pelo olival durante o processo produtivo.

O crescimento do setor ao longo dos últimos anos exige a todos os agentes envolvidos neste processo, um foco na procura da excelência, correspondendo à recetividade que o azeite tem vindo a ter quer junto dos consumidores nacionais quer no âmbito dos mercados internacionais. Ao desafio de continuar a aumentar a produção, deve corresponder um aperfeiçoamento de todas a fases desta atividade, desde a receção da azeitona, à extração e transformação do bagaço, visando a sustentabilidade a todos os níveis, nomeadamente na produção, na transformação, no equilíbrio ambiental e no abastecimento dos mercados.

Luís Mira
Secretário-Geral da Confederação dos Agricultores de Portugal