Nas últimas décadas a produção da castanha na Europa europeia (Castanea sativa) tem sido afetada por várias doenças e pragas: doença da tinta (Phytophthora cinnamomi e Phytophthora cambivora), cancro do castanheiro (Cryphonectria parasitica) e vespa das galhas do castanheiro (Dryocosmus kuriphilus) e, mais recentemente, pela podridão castanha da castanha (Gnomoniopsis smithogilvyi) (Figura 1), uma doença de conservação da castanha, que é atualmente uma das principais preocupações do setor e responsável por enormes prejuízos económicos.

A podridão castanha tem afetado a produção de castanha na Europa desde o 2010, tendo sido a Itália o primeiro país onde foi detetada, e donde difundiu para outros países. Em Portugal os primeiros registos desta doença datam de 2019, tendo provocado na campanha de 2023, uma quebra de produção de castanha que se estima da ordem dos 40 a 50% (Figura 2).

G. smithogilvyi é um fungo endofítico, significando que pode viver no interior da planta

Apresenta no seu ciclo de vida reprodução sexuada que resulta na formação dos ascósporos provenientes da manta morta do souto (especialmente dos ouriços da campanha anterior) e que vão infetar as flores femininas. Apresenta também uma via assexuada, com a formação e propagação dos conidiósporos, que afetanm os amentilhos e os raminhos do ano. Os estudos têm mostrado que esta última via de infeção está associada à presença de galhas no castanheiro causada pelo insecto D. kuriphilus, que provavelmente funcionam como reservatórios do fungo, tal como os ouriços deixados no souto.

Gnomoniopsis smithogilvyi infeta o interior da castanha, produzindo alterações da sua cor e textura, podendo mesmo observar-se a desidratação e a mumificação do fruto. Estes sintomas têm maior probabilidade de surgir durante o armazenamento, sendo numa fase inicial, apenas detetados quando a castanha é aberta (Figura 3). No entanto, é de realçar que o fungo pode estar presente no interior das castanhas sem mostrar qualquer sintoma da sua presença, por se tratar de um fungo endofítico.  Neste caso apenas a realização de análises culturais ou moleculares permite a sua deteção.

A comunidade científica, os técnicos e os produtores têm procurado encontrar soluções, durante o ciclo vegetativo e após a colheita. Assim, recomenda-se que o produtor limpe a “manta morta” após a colheita, isto é, os ouriços que ficaram no souto, de forma a eliminar essa fonte de transmissão (…).

Agradecimentos: Ana Gomes pela Bolsa de Investigação (BI/UTAD/61/2023, no âmbito do protocolo de cooperação UTAD/ Comercial Química Massó, S.A.) e Guilherme Possamai pela Bolsa de Doutoramento (2023.03087.BD) da FCT. AG, AS, GP, JGL e PR, agradecem à FCT/MCTES pelos fundos nacionais ao CITAB (UIDB/04033/2020), Inov4Agro (LA/P/0126/2020), CIMO (UIDB/00690/2020) e SusTEC (LA/P/0007/2020).

Autoria: Ana Gomes1, Ana Sampaio1,2, Guilherme Possamai1, Paula Rodrigues3,4, José G. Laranjo1,2

1Centro Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB), Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Quinta de Prados, 5000-801, Vila Real, Portugal; 2Instituto de Inovação, Capacitação e Sustentabilidade da Produção Agroalimentar (Inov4Agro), UTAD, 5000-801 Vila Real, Portugal; 3Centro de Investigação de Montanha (CIMO), Instituto Politécnico de Bragança (IPB), Campus de Santa Apolónia, 5300-253 Bragança, Portugal; 4Laboratório Associado para a Sustentabilidade e Tecnologia em Regiões de Montanha (SusTEC), IPB, Campus de Santa Apolónia, 5300-253, Bragança, Portugal.

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